terça-feira, 25 de julho de 2017

A Burocracia das Empresas Está Criando Empregados Medíocres

Antes de decidir ser um blogueiro, eu lia esporadicamente alguns blogs e eventualmente passei a acompanhar mais de perto um ou outro. Percebi então que alguns blogueiros postam uma vez por mês, outros 4 vezes por mês, e outros 3 vezes por semana, e esse fato por si só é algo a que eu nunca havia me atentado, era simplesmente um número relacionado à vontade de o blogueiro escrever ou não.

Entretanto, após criar meu blog e me tornar oficialmente um blogueiro, pude sentir na pele o quão difícil é fazer postagens regulares e de qualidade, o esforço criativo é enorme! Eu tiro o chapéu para os blogs que estão por ai, duradouros e consolidados, não só na blogosfera de finanças, mas em qualquer outro nicho. É justamente sobre o esforço criativo que vou focar nessa postagem, pois, nos tempos modernos, pelo menos no Brasil, temos a seguinte situação:

A criatividade é completamente sufocada pelas empresas e também pelas escolas.

Não estou falando de supermercados de favela ou escolas de periferia, mas de grandes companhias e escolas de elite. São empresas que embora gigantes, tem uma cultura organizacional que repele a criatividade e inovação.

COMO AS EMPRESAS ENTERRAM A INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE DOS EMPREGADOS


Semana passada aconteceu uma situação peculiar no meu trabalho, não foi diretamente comigo mas fui testemunha ocular. Uma determinada pessoa de nível Operacional, vamos chamar de nível 1, identificou uma situação que, na opinião dela, era uma falha relevante e deveria ser corrigida. Após analisar e reanalisar a situação para ter certeza do que ela havia identificado, resolveu levar o fato ao conhecimento de seu superior, Gerente nível 2.

Após um longo debate sobre a relevância ou não daquele fato, quais medidas poderiam ser tomadas e quem seriam os responsáveis por adotar tais medidas, decidiu-se que sim, era uma situação que merecia tratamento, mas que para isso deveriam consultar o Coordenador, nível 3, que estava de férias e retornaria em 3 dias.

Ao retornar de férias, o Coordenador nível 3 começou o processo de "atualização" do que havia acontecido em sua ausência e dentre os diversos assuntos em pauta, estava a tal situação e, como de se esperar, aconteceu o mesmo debate: relevância, medidas, responsáveis, etc. A conclusão foi uma "tendência" para se decidir adotar alguma ação em relação a essa situação, mas, para isso, deveria ser consultado o Diretor nível 4.

Então, o Coordenador nível 3 e o Gerente nível 2 conseguiram uma agenda com o Diretor nível 4, oportunidade em que fizeram novamente toda a exposição da situação e, finalmente, a decisão definitiva do Diretor foi a seguinte: Esse não é um assunto importante no momento e não merece a atenção da equipe.

Veja como uma situação como essa, que de certa forma é cotidiana no mundo corporativo, pode nos dar algumas lições.

A EXCESSIVA VERTICALIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES ENGESSA A INOVAÇÃO


Na situação narrada, o Operacional nível 1 identificou uma oportunidade de melhoria que julgou relevante, e, considerando que é essa pessoa que está no dia a dia daquela operação, certamente a sua opinião deve ser levada em consideração. Veja que ele poderia simplesmente ter se restringido a fazer apenas a sua parte, esperar o fim do expediente e ir pra casa com a cabeça tranquila, mas ao invés disso essa pessoa decidiu sair da sua zona de conforto e se aprofundou em uma situação que ela julgou que poderia trazer benefícios para a organização.

Quem chefia equipes sabe o quão difícil é encontrar pessoas que conseguem enxergar além das suas atribuições, que querem fazer além do feijão com arroz, que estão verdadeiramente engajadas com a missão do negócio. Entretanto, no fim das contas, após passar por diversas instâncias decisórias, a ideia morreu na mesa de um Diretor que, na prática, está muito longe dos fatos que seriam tratados e não tem a melhor sensibilidade da situação posta.

Embora essa tenha sido uma situação pontual, certamente já aconteceu antes e certamente ainda irá acontecer novamente e a recorrência de episódios como esse causa o seguinte: o empregado Operacional nível 1 não terá mais estímulos para propor melhorias nos produtos/processos uma vez que qualquer ideia passa por uma enorme cadeia decisória e que a decisão final é de alguém que está longe do processo e não tem a sensibilidade para lidar com aquela situação.

Dessa forma, não vale a pena o Operacional nível 1 (ou mesmo o Gerente nível 2) "se queimar" propondo projetos inovadores que provavelmente não serão aprovados. Afinal, tanto o Operacional como o Gerente tem muito trabalho a fazer, se eles ficarem com essa "besteira" de propor inovações na empresa, não vai sobrar tempo para cumprir a suas obrigações, o seu feijão com arroz.

A FALTA DE AUTONOMIA DESTRÓI A CRIATIVIDADE


A falta de autonomia é diretamente relacionada à verticalização das empresas tradicionais. O empregado operacional tem poder decisório muito baixo, quase nulo, e olhe que não estou falando de peões de fábrica, estou falando de empregados operacionais de alto nível. As organizações tradicionais mantém o processo decisório alheio aos empregados operacionais, criando estruturas hierárquicas que tornam a tomada de decisão lenta e distante da grande massa de colaboradores. O que se tem na prática, guardadas as devidas proporções, são grandes companhias, com pessoal extremamente qualificado, mas que gere as pessoas como se fosse um canteiro de obras cheio de peões ignorantes e inaptos a fazerem algo que fuja do seu habitual.

Quem não gostaria de se sentir responsável por uma mudança ou inovação que agregou valor à organização e/ou trouxe benefícios de uma forma geral, seja financeiro ou não financeiro? Todo mundo! Todos querem se sentir úteis, se sentir importantes, se sentir parte de algo maior. Isso gera engajamento dos funcionários com a missão da organização, estimula-os a serem cada vez mais criativos e a expressarem suas ideias.

Entretanto, o que as empresas fazem? Deixam que todo o processo decisório (e os créditos por decisões bem tomadas) fique na mão de um Diretor/Gerente/Coordenador "fodão" que mata no peito e decide tudo, esperando que os demais empregados que estão nas trincheiras inferiores da hierarquia se sintam representados.

Muitas empresas dizem que promovem a comunicação em relação à tomada de decisão e acham que isso é suficiente. Na verdade o que engaja as pessoas não é comunicá-las sobre as decisões tomadas, mas sim envolvê-las no processo decisório.

OU SE ASSUME A MORTE CRIATIVA OU ENCONTRA-SE UMA SAÍDA


Quem trabalha em organizações que adotam essa cultura sabe que isso no longo prazo vai levando a mente para um estado vegetativo, em que se acostuma a fazer apenas aquilo que é habitual, sem nunca ousar ou pensar em fazer de forma diferente. É apenas entregar as metas pactuadas no prazo pactuado, é pensar apenas no quantitativo renegando o qualitativo.

Para evitar que fiquemos com o cérebro viciado, com a mente preguiçosa, e viremos Homer Simpsons (como diria William Bonner) vislumbro 3 soluções para esse dilema:

1) Ser o chato insistente dentro da empresa
Para uma pessoa criativa e inovadora e que sempre está enxergando soluções e oportunidades de melhorias, trabalhar numa empresa engessada pode ser um martírio. Entretanto, mesmo na mais engessada companhia há espaço para a inovação, às vezes existem determinados departamentos ou gestores mais aberto a isso, a questão é cultivar o networking, buscar os melhores espaços e persistir nas tentativas.

2) Empreender
Quando se decide empreender, o céu é o limite para a criatividade, aliás, a criatividade é fundamental para um empreendedor pois a gama de situações de mudança a que um negócio está sujeito é infinita, é preciso sempre estar pensando em soluções criativas e enxergando alguns passos a frente. Muitas vezes a necessidade que uma pessoa sente de empreender decorre justamente da vontade de poder permitir ser criativo e tomar decisões baseadas nisso.

3) Buscar uma válvula de escape
Para evitar cultivar um cérebro preguiçoso, é preciso sempre colocá-lo para trabalhar. Se no ambiente corporativo a proposição de ideias e soluções criativas ou inovadoras não é bem aceita, pode-se buscar um outro modo, fora do trabalho, de externar a criatividade, escrevendo um blog por exemplo, criando um canal no youtube, escrevendo um livro, desenhando, etc. Eu, por exemplo, acho a atividade de escrever posts aqui para o blog um grande exercício de criatividade.

CONCLUSÃO


Grande parte das organizações tradicionais (sejam públicas ou privadas) adotam uma estrutura organizacional verticalizada, que contribui para a manutenção de uma cultura organizacional que inibe a criatividade e inovação entre os empregados. Empresas como essa acabam formando empregados com cérebro num eterno estado de inércia, preguiça e conformismo, os mesmos que serão demitidos para dar lugar a gente "jovem e cheia de ideias".

Mas esse problema não é só das empresas, ele nasce bem antes, nas escolas. Sobre isso, vou deixar a seguir um vídeo de uma palestra muito interessante feita pelo Murilo Gun, vale a pena assistir!

Abraços,

Ministro


16 comentários:

  1. Excelente post Ministro!

    Cara escrever não é fácil! Principalmente para mim hehe, Mas eu gosto do desafio...

    Sobre esse cenário, é raro empresas que fazem o contrário. Isso que você postou infelizmente é o que acontece na maioria das empresas. Seja de grande a pequeno porte.

    Mal sabem os benefícios que elas ganhariam ao dar mais atenção a seus operacionais.

    Tem uma historia por ai, de um senhor trabalhando como "peão" em uma fabrica da Volkswagen, sugeriu um procedimento diferente para a colocação do carpete. Deram uma chance para o senhor. Resultado = Muita, mas muita grana economizada! Dizem que o senhor ganhou um Vw Gol como prêmio pela sugestão!

    O cara que o Murilo fala no video! https://www.youtube.com/watch?v=U7lQe_W_p_A


    Abraços

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    1. Opa Inglês!

      Realmente escrever é um desafio, mas é muito bom, nos faz crescer muito intelectualmente.

      Interessante esse caso da VW, não sabia, uma pena que isso ai é exceção, principalmente no Brasil.

      Valeu pela indicação do vídeo, vou assisti-lo!

      Abraços!

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  2. Excelente post Ministro,

    No início da minha jornada de empregos eu pensava que se tivesse novas ideias eu seria bem recebido, mas vi que isso na maioria das vezes é tudo balela. Então, hoje eu faço apenas que me passa, pois não quero me estressar com nada.

    Abraços.

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    1. E ai Cowboy!

      Infelizmente a realidade é essa, na teoria todo mundo ama "criatividade e inovação" mas a prática corporativa é bem diferente.

      Mas como eu destaquei no post, tente fugir desse perfil de "faço apenas o que me passam". Isso no longo prazo vai te matar por dentro e te empobrecer como profissional e até como pessoa.

      Abraços!

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  3. Ministro,

    Também acho a cultura corporativa, sobretudo no Brasil, ainda muito vertical, com autoridade justificada na antiguidade. Me pergunto se os "mileniais" serão agentes de mudança ao assumirem futuramente posições de chefia, ou se na hora H o individualismo falará mais alto, e essa ênfase na flexibilização da hierarquia deixará de ser conveniente.

    Ótimo post, abraço!

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    1. E ai DM!

      Esse é um bom questionamento, mas eu acho que os "Millenials" (que hoje tem entre 25 e 35 anos) já sucumbiram ao sistema, são pessoas que chegaram ao mercado se achando revolucionários e com uma enorme sede de inovar mas se frustraram com o sistema posto.

      A esperança agora são os "Centennials", que hoje são adolescentes. Talvez tenhamos uma geração menos "estrela" e mais resiliente!

      Abraços!

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  4. Cara, eu to achando que você trabalha na mesma empresa que eu. Quiçá, aqui perto de mim, na mesma sala! hahahahah

    Já passei muito por essa situação de encontrar problemas e não conseguir resolver por questões burocráticas.

    Isso é uma questão bastante cultural. Aqui no Brasil temos uma cultura de chefia. Qualquer coisa que fuja do usual tem de ser escalada a níveis estratosféricos. E geralmente a questão cai no colo de alguém que não tem a mínima noção do nível técnico e operacional da coisa.

    Falta, por parte dos superiores, encorajar o nível operacional a buscar soluções próprias seguindo diretrizes mínimas.

    O "chão de fábrica" geralmente evita assumir responsabilidades e inovar, justamente porque não é encorajado a fazer isso.

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    1. Isso que voc|ê citou acontece mesmo. Eu tenho um cargo operacional, poderia ter autonomia para tomar algumas decisões por conta própria.
      Como isso não acontece algumas coisas demoram mais a serem resolvidas.
      Até não é meu caso, mas tem muito superior centralizador que faz questão que tudo passe por ele, ou porque ele não confia nos subordinados, ou porque quer manter uma imagem de líder que dá a última palavra ou até mesmo por uma simples formalidade da empresa.

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    2. E ai Wannabe!

      Essa sensação de trabalharmos no mesmo lugar é justamente por que esse tipo de coisa acontece em todo lugar, praticamente da mesma forma. Como você disse, vivemos a cultura de chefia, onde tudo tem que subir de nível.

      Eu por exemplo, sou chefe de uma equipe e tento dar autonomia para o pessoal, entretanto esbarro em dois problemas:

      a) as pessoas estão acostumadas a fazer só o feijão com arroz, elas pensam assim "eu sou pago pra fazer X, se querem que eu faça X+Y me paguem mais".

      b) toda a estrutura organizacional é focada nos chefes como tomadores de decisão, muitas vezes deixando os operacionais de fora de discussões importantes, deixando-os sem informação suficiente para ter uma atuação mais proativa.

      Abraços!

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    3. Anon 16:09,

      Sua colocação foi interessante é até antecipou um assunto que pretendo abordar aqui no blog: a diferença que faz para a equipe ter um chefe centralizador ou delegador, na minha percepção, claro.

      Vivi recentemente uma transição de um chefe delegador para um chefe centralizador e vou colocar minhas impressões sobre isso.

      Abraços!

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    4. Fala Ministro, parabéns pelo post. Acho que nesse caso, depende do perfil do chefe. Se é um delegador que põe a mão na massa junto com o pessoal, show de bola. O problema é quando ele delega para os outros fazerem tudo. Aí é tão ruim quanto um centralizador. Acho que hoje, o papel de um líder é melhor recebido, alguém que dê a autonomia necessária para cada funcionário desempenhar o seu melhor e coloque a mão na massa junto com a equipe. Abraço!

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    5. E ai Finansfera!

      Realmente sempre existem dois lados da moeda, há vantagens e desvantagens tanto no perfil delegador como no centralizador, tem pessoas que preferem um, tem pessoas que preferem outro, é questão de perfil.

      O ideal é um perfil híbrido, que saiba delegar e confiar nas pessoas mas que chame para si a responsabilidade e arregace as mangas quando necessário. Achar esse equilíbrio é que é o complicado....

      Abraços!

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  5. Sr. Ministro

    A verticalização corporativa é observada em todo mundo. Grandes corporações que atuam em diversos países são exemplos de burocracia e ineficiência.

    As pequenas empresas - realmente pequenas - são mais ágeis em identificar oportunidades e problemas e consequentemente apresentar as soluções.

    Inovações em grandes corporações dificilmente ocorrem quando elas estão consolidadas como uma potência, salvo raríssimas exceções.

    Até dentro da própria Amazon, Google, Facebook, etc, existem grupos de trabalho separados do ambiente corporativo mais, digamos, 'padrão', visando justamente evitar cair na armadilha que você descreveu muito bem.

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    1. Salve TR!

      Realmente a verticalização, e as desvantagens que vem com ela, acaba sendo um efeito colateral do grande crescimento de uma companhia, até por que uma empresa de gestão vertical, embora possa ter mais criatividade e engajamento, torna-se bem mais difícil de administrar...em grande escala é um desafio maior ainda!

      Mas eu ainda acho que as grandes companhias, principalmente as de tecnologia, vão caminhar nesse sentido.

      Abraços!

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  6. Fala Ministro!
    Gosto muito deste tema da criatividade, inclusive já fiz um post neste sentido:
    http://abacusliquid.com/qual-o-papel-da-escola/
    Depois que eu vi esta palestra do Gun comecei a mudar meu comportamento em relação ao meu filho, sempre me policio para não encaixotá-lo.
    Pais, professores, gerentes... todo mundo contribuindo para o encaixotamento, e ninguém percebe.
    Abraço!

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    1. E ai Uó!

      Li agora seu post, muito bom!

      Realmente esse é um tema complexo. Precisamos sempre nos policiar para não deixar ser "encaixotados" nem "encaixotar" aqueles que estão sob nossa responsabilidade, sejam filhos, subordinados ou alunos.

      Abraços!

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