quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

As Melhores Ações do Setor Elétrico


Esses dias estava ouvindo o podcast da Suno Research e um dos sócios estava respondendo a perguntas variadas. No meio dessas perguntas, ele falou que a bolsa de valores está, de forma geral, muito esticada (o que todos nós sabemos), mas que há um setor específico em que ainda se encontram boas oportunidades: o setor elétrico.

Eu não sei qual o embasamento dele para afirmar isso, mas resolvi estudar um pouco melhor o setor e algumas empresas integrantes dele. Fiz isso sob a ótica da análise de balanços, analisando friamente os números sem considerar questões de governança corporativa e perspectivas específicas para cada empresa.

Antes, vou fazer uma breve introdução sobre o setor para entendermos melhor como a coisa funciona. Basicamente, o setor elétrico funciona em três segmentos distintos: geração, transmissão e distribuição. Veja a imagem seguinte que ficará um pouco mais fácil de entender:



GERAÇÃO

As companhias que atuam na geração de energia são aquelas responsáveis por produzir a energia elétrica, ou seja, transformar um insumo natural em energia propriamente dita, que é posteriormente injetada no sistema de transmissão. No Brasil, a maior parte dos empreendimentos em operação atuam na geração de energia de origem hidrelétrica (64,5%), seguida pela energia Termelétrica (26,7%). Os outros 8,8%  se dividem em fontes de energia nuclear, eólica e solar.

Os principais agentes de geração de energia são os seguintes (3º Tri 2017):

     Fonte: ANEEL

Dos agentes listados acima, quatro tem ações listadas na bolsa de valores: ENGIE, PETROBRAS, COPEL e CEMIG.

TRANSMISSÃO

As companhias atuantes no ramo de transmissão são aquelas que recebem enormes quantidades de energia provenientes das unidade de geração e fazem seu transporte até as companhias distribuidoras (que por sua vez distribuem para os pequenos consumidores). Aqueles apagões que afetam diversos estados se dá justamente quando há falha nas linhas de transmissão de energia.

Se você tiver curiosidade, acesse ESSE LINK para ver um mapa das linhas de transmissão de energia no país.

DISTRIBUIÇÃO

As companhias de distribuição são aquelas que recebem grande quantidade de energia vindo do sistema de transmissão e fazem a distribuição pulverizada entre os pequenos consumidores. É a empresa distribuidora que leva a energia para a sua casa ou seu comércio e que, em contrapartida, envia todo mês uma fatura a pagar.

Os 10 maiores agentes de distribuição, por receita auferida, são os seguintes (3º Tri 2017):

    Fonte: ANEEL

Das empresas listadas acima, apenas a Companhia Energética de Goiás não tem ações listadas na bolsa de valores.

Importante destacar que todo o setor sofre forte regulação estatal, inclusive com controle de preços, um dos pontos de maior vulnerabilidade do segmento, vide a crise enfrentada pelas elétricas no Governo Dilma.

ANÁLISE FUNDAMENTALISTA DAS PRINCIPAIS COMPANHIAS

Como coloquei no início, essa análise será focada nos balanços das empresas, analisando friamente os números sem considerar questões de governança corporativa e perspectivas futuras. Selecionei todas as empresas que apareceram nos quadros anteriores e uma ou outra adicional, totalizando 16 companhias do setor.

A análise foi baseada em 5 critérios: P/L, Margem Líquida, ROE, Endividamento e Dividend Yeld. Explicarei tudo a seguir:

Os dados utilizados são do 3º trimestre de 2017, considerando os últimos 12 meses até essa data. 
  
RELAÇÃO PREÇO/LUCRO (P/L)

O P/L dá uma ideia de quanto o mercado está disposto a pagar pela empresa, considerando o tamanho do seu lucro. Um P/L alto, pode significar que a empresa está cara e/ou há uma grande disposição do mercado em comprar aquele papel. Já um P/L baixo, pode significar que o mercado não está disposto a comprar aquele papel, seja por haver algum fato que desabone o futuro da empresa, seja por que a empresa é uma "joia escondida". Dessa forma, o cenário ideal é encontrar uma empresa com bons fundamentos e com P/L baixo.


A princípio esse índice, por si só, não nos diz nada. As empresas com maiores P/L podem ser as que estão mais caras ou que o mercado está mais de olho, e as com menos P/L pode ser as que estão mais baratas ou que não estão tão no radar do mercado. Os fundamentos seguintes vão nos ajudar a analisar melhor.

MARGEM LÍQUIDA

E é a margem de lucro líquido da empresa em relação a seu faturamento. Companhias com margem líquida baixa vivem na corda bamba, pois qualquer aumento imprevisto de custo pode lhes levar ao prejuízo. Quanto maior a margem líquida, melhor.

Podemos ver que no setor elétrico muitas companhias operam com margens de lucro reduzidas, principalmente as distribuidoras, entretanto há um seleto grupo trabalhando com margens líquidas bem elevadas.

RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO LÍQUIDO (ROE)

O ROE demonstra o quanto do patrimônio investido pelos sócios na empresa está rendendo. Espera-se que esse percentual seja superior à aplicações financeiras disponíveis no mercado. O ROE é um ótimo indicador para comparar o desempenho de empresas do mesmo setor.



DÍVIDA BRUTA/PL

Esse índice revela o grau de endividamento da empresa. Lógico que quanto menos dívida, melhor, entretanto essa análise é melhor realizada considerando o caixa gerado pela empresa e o custo da dívida. De qualquer forma é um índice importante.



DIVIDEND YELD

Esse índice já muito famoso é que compara o dividendo pago pela empresa com o preço da ação. Pra quem busca investir em ações com a expectativa de ter uma renda passiva, esse item é de suma importância. Por outro lado, para quem busca crescimento, às vezes é melhor a companhia distribuir pouco dividendo e reinvestir os lucros na sua operação.



CONCLUSÃO

Baseando-me unicamente nos números levantados, poderíamos considerar as melhores ações do setor elétrico as seguintes:


Logicamente que essa análise não é suficiente para fazer uma decisão de comprar ou não determinada ação. Outros critérios devem ser considerados, por exemplo, a CEEE está no nível 1 de governança da Bovespa, as ações COELCE tem baixa liquidez, a TAESA, em 2017, apresentou queda de receitas relevante em relação à 2016, etc.

Por isso que esse artigo não se trata de uma sugestão de investimentos, mas apenas um olhar mais detalhado sobre o setor, dando um norte para aqueles que estão pensando em se aventurar nas elétricas.

Abraços,

Senhor Ministro



28 comentários:

  1. Tem muita empresa do setor elétrico na bolsa que, do ponto de vista contábil e financeiro é espetacular.

    A pena é que a grande maioria só entrou na bolsa pra conseguir um aporte inicial de capital e se fechou no casulo novamente. Liquidez baixíssima e certas práticas de governança que não me agradam me deixam longe delas.

    Sou sócio da EGIE, que tem um RI e uma governança exemplar.

    Fiz um post recente sobre essa história de "preço esticado". Dá uma passada lá! :-)

    Abraço!

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    1. E ai Wannabe,

      Muito boas suas colocações. De fato, algumas dessas empresas não aderiram 100% à filosofia de ser uma companhia de capital aberto de verdade.

      Também sou sócio da ENGIE e me arrisco a dizer que atualmente essa é a melhor empresa do setor para investimentos de longo prazo.

      Vou dar uma olhada no seu post!

      Abraços!

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  2. Bem bacana a postagem.

    Vejo o setor de transmissao como mais tranquilo,

    Tenho taesa, tiet e estou montando posiçao em Engie.

    Abraço

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    1. E ai VdC!

      Taesa me parece uma ótima companhia, as receitas e o lucro vem caindo desde 2016 mas me parece que a companhia tem alguns novos projetos engatilhados. De qualquer forma os fundamentos permanecem ótimos, sem falar na distribuição de dividendos.

      A AES Tietê achei o endividamento meio alto...

      Engie é o fino do setor e está com um P/L razoável, ainda tem muito espaço para subir a cotação.

      Abraços!

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    2. Pois é, aumentou a divida em Tiete pois ela esta investindo em fontes alternativas, para fins de diversificacao das receitas. Veremos o fruto so la em 2020 pra frente ...

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    3. Entendi....a ENGIE no 4T2017 anunciou um aumento significativo do endividamento também destinado a novas fontes de geração de energia.

      A diferença é que a ENGIE tem uma geração de caixa forte, vai quitar a dívida rápido e fácil.

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  3. Bom resumo do setor de energia elétrica.

    Sobre as empresas é preciso analisar com cuidado, para ver se existe ou não, lucros não recorrentes, que podem ter afetado os resultados.

    Abraço e bons investimentos

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    1. E ai DIL!

      De fato, essa análise que fiz é superficial, mas é importante para separar o joio do trigo.

      Depois de feita essa triagem inicial é importante aprofundar a análise das empresas para verificar situações excepcionais como lucros não recorrentes que podem estar inflando artificialmente os resultados.

      Abraços!

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  4. Setor elétrico tá meio paradinho ultimamente. Já foi vedete da bolsa.

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    1. Pois é...

      Mas pensando no longo prazo, o setor tem algumas boas empresas, assim como tem muitas ruins.

      É um setor que fica muito a mercê da regulação estatal, então é importante filtrar bem as empresas antes de investir.

      Abraços!

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Sou de Pernambuco e estou fazendo a monografia da pós-graduação sobre o mercado de capitais, tomando como base o setor energético. Aqui a única empresa que possui ações na bolsa é a distribuidora Celpe. Não vejo nenhum destaque para essa empresa. Contraria a maioria das notícias que vejo, que diz que as empresas do setor elétrico são boas pagadoras de dividendos. Apresenta dívidas maiores que o patrimônio líquido. A Celpe pode ser classificada como essas empresas ruins?

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    4. E ai Arthur, beleza?

      Então, recomendo para fazer suas pesquisas dar uma olhada na Plataforma PenseRico e no site Fundamentus.

      http://www.fundamentus.com.br/detalhes.php?papel=CEPE6&x=30&y=14

      No caso da Celpe, ela não ficaria muito bem na fita não. Tem margem líquida muito baixa (1,1%), endividamento alto (mais de 2x o PL), ROE baixo (2,3%) e liquidez corrente inferior a 1. Ela se destaca positivamente no quesito Dividend Yeld (8,6%).

      Em suma, não é uma companhia na qual eu investiria.

      Abraços!

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  5. Ótimo post. Senti falta da ENGI3 - Energisa. Valeu pelas dicas!

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    1. Realmente ela ficou de fora...

      Mas olhando aqui rapidamente os indicadores da Energisa, ela certamente não estaria entre as melhores do setor, pois tem um endividamento muito alto e uma margem líquida muito baixa, um mix bem perigoso!

      Abraços!

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  6. Olá. Gostei da matéria. Não sou especialista, mas venho acompanhando algumas empresas do setor. Vejo os números da Copel e o quanto está barata. Cemig me atrai pelas novas perspectivas. Imaginem se conseguir chegar a pelos menos 20% de margem líquida - continuaria com bons proventos, amortizaria dívida e poderia investir. Atividade perene, a meu ver um grande filão da bolsa.

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    1. E ai Patrick,

      Bom, falando bem por cima, tanto a Copel quanto a Cemig parecem estar sendo negociadas a preços atrativos, porém são cases distintos. Os números e as perspectivas da Copel parecem bem mais atrativas que da Cemig.

      A Cemig é muito endividada e tem a margem líquida muito baixa, para chegar na faixa dos 20% (como você citou) teriam que fazer uma mega reestruturação de custos e despesas. A Copel parece ter números mais sólidos, e tem vários projetos novos em andamento.

      Em favor da Cemig tem a questão da possível privatização da companhia, mas ai está tudo na casa da especulação.

      Abraços!

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    2. Ministro,
      Agradeço pela avaliação. Abraço.

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  7. Boa noite
    Estou começando uma carteira de previdência e ainda não tenho muita experiência alguém poderia me dar umas dicas?

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    1. Fala Unknow,

      Sua pergunta é um tanto ampla, mas acho que as dicas básicas são as seguintes:

      1. Defina sua alocação de ativos, em outras palavras o percentual de cada investimento em sua carteira, por exemplo: 25% Tesouro Direto, 25% CDB, 25% ações, 25% Fundos Imobiliários.

      2. Tenha uma reserva de emergência

      3. Evite girar patrimônio

      4. Foque seus investimentos no longo prazo. Em renda variável isso significa basicamente comprar papéis de boas empresas (ou fundos) que tenham um bom histórico e que haja perspectiva de que esses bons resultados sejam sustentáveis e perenes ao longo dos anos.

      Sem entrar em muitos detalhes é isso. Sua pergunta daria um curso inteiro.

      Abraços!

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  8. Ótimo estudo, Ministro.
    Eu sou particularmente exposto à este setor (com ENGIE E TAESA), pois gosto muito dele. Meu pai trabalho neste setor a vida inteira e temos bastante conhecimento da área. Já visitei fisicamente algumas destas empresas listadas no seu estudo, e te digo que são empresas bastante perenes, com um bom futuro pela frente. Muitas delas (como a ENGIE) estão se reinventando com a geração de energia limpa, portanto são ótimas empresas pra investir e perder de vista.

    Forte abraço.
    Stark.
    www.acumuladorcompulsivo.com

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    1. Fala Stark!

      Também estou na mesma linha que você, com ações de ENGIE e TAESA, acredito que essas duas são as queridinhas do setor na bolsa. Outra que vejo muita gente investindo, mas ainda não me convenci totalmente disso, é a AES TIETÊ.

      De fato o setor elétrico tende a ser perene, afinal, todo mundo precisa de energia elétrica e vai ser assim por muito tempo ainda. As fontes de energia se renovam, mas a energia ainda é necessária.

      Abraço!

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  9. Sera que vale a pena comprar a AES TIETE no mercado fracionario?

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    1. Mercado fracionário e à vista tanto faz, a ação é a mesma a empresa é a mesma.

      A situação da AES TIETE também não parece ter mudando muito desde que escrevi esse post, dívida ainda muito alta é o principal "porém" dessa empresa.

      Abraço!

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    2. Será que na dívida alta da AES está relacionada a grandes investimentos em energia eólica?Se for, acredito que não seria um fator decisivo para não se tornar sócio! Abraço!

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  10. Como vocês vêem esse IPO da Neoenergia?

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