O ano de 2018 talvez simbolize uma virada (tímida) da economia brasileira, estamos começando a sair do buraco, e crescimento econômico traz consigo uma nova onda de IPOs. Se você não sabe o que é IPO, essa é a sigla, em inglês, para Oferta Pública Inicial de ações, ou seja, é o ato de uma empresa abrir seu capital na bolsa de valores.
Esse ano tivemos ou teremos alguns estreantes bem interessantes na bolsa, e um deles é o nosso querido Banco Inter, o amigo de todo investidor, pois permite que façamos transferências para nossas corretoras sem cobrar taxas por isso. Aliás, essa é uma das principais estratégias do banco, atrair clientes isentando-os da cobrança de taxas de manutenção de conta, TED e cartão de crédito.
O grande diferencial do Banco Inter é o fato de ser um banco digital: todo atendimento, abertura de contas, investimento, contratação de serviço é feito pela internet. Num mercado bancário tão tradicional e concentrado como o nosso, em que apenas alguns bancos dominam a cena e acumulam reclamações e insatisfação de seus clientes, o Banco Inter encontra um cenário ideal para abocanhar uma fatia do mercado.
Não à toa o banco informa que está atualmente com a impressionante marca de, em média, 2.700 contas abertas POR DIA. Isso é muita coisa, é uma taxa impressionante de aquisição e novos clientes. Esse crescimento cresceu exponencialmente em 2017, quando o número de clientes saltou de 80 mil para 379 mil.
Olhando sob essa perspectiva o Banco Inter parece um ótimo prospecto mas vamos refletir um pouco: se a proposta do banco é não cobrar tarifas, como ele faz para ganhar dinheiro?
Obviamente que em uma instituição financeira as tarifas são apenas uma das fontes de receita. Como o Banco Inter não possui todo o custo de manter uma estrutura de agências, é razoável que abra mão de algumas receitas para se diferenciar da concorrência. Dessa forma, outras fontes de receitas podem dar os resultados que o banco espera como a concessão de empréstimos e financiamentos. Vamos então fazer uma Raio-X da carteira de crédito do Banco Inter:
Os principais produtos do banco são crédito imobiliário, crédito pessoal e crédito para empresas na seguinte proporção:
Observa-se que nos últimos 3 anos, o crédito imobiliário foi o grande filão do banco e o principal responsável por seus resultados, representando mais de 50% da carteira de crédito. Isso provavelmente remonta às raízes do banco, que pertence ao mesmo grupo familiar proprietário da MRV Engenharia e que fundou o banco em 2008 justamente para atuar no segmento de operações de crédito imobiliário.
Se o crédito imobiliário é tão relevante no Banco Inter resolvi então simular uma contratação desse tipo de financiamento para verificar se, realmente, o Banco tem algum diferencial nessa área e as características do CredCasa, apelido do financiamento imobiliário do Banco Inter, são as seguintes:
Sinceramente, eu não vi muito diferencial nisso, pelo contrário, achei os juros bem elevados: 0,83% a.m daria uma taxa anual de 10,43% e projetando-se um IPCA de 4%, teríamos uma taxa de juros de mais de 14% ao ano. Isso considerando um IPCA controlado, mas todos sabemos que no Brasil, o IPCA pode subir e descer de forma bem exponencial, gerando mais um risco para o tomador de um empréstimo vinculado ao IPCA, principalmente levando em conta que trata-se de um empréstimo de longuíssimo prazo.
Ai eu me pergunto: se nós temos ai no mercado grandes players trabalhando com taxas de, em média, 9% a.a + TR (que varia muito pouco), por que alguém contrataria um financiamento custando 14% a.a e se sujeitando ao risco de variação do IPCA?
Provavelmente essa carteira de crédito imobiliário do Banco Inter seja fruto da estreita ligação com a MRV Engenharia, pois com essas condições acima, dificilmente o Banco conseguiria ter um diferencial competitivo no mercado.
Portanto eu não investiria no Banco Inter buscando ter em minha carteira um player relevante do mercado imobiliário, na verdade não se trata aqui de investir numa instituição financeira com resultados consolidados, mas sim em uma aposta, uma aposta que o Banco Inter conseguirá mudar o perfil do seu portfólio, aumentando receitas provenientes de outras fontes como seguros, cartões, crédito pessoal e crédito a empresas.
A enorme e impressionante captação de clientes em 2017 mostra que o Banco Inter tem a faca e o queijo na mão para crescer muito, além disso, o Banco declara que pretende destinar os recursos levantados no IPO para incrementar suas operações de crédito, investir em tecnologia, investir em marketing e expandir os negócios por meio de aquisições estratégicas. Portanto aqui o banco já dá uma dica: talvez a diversificação da carteira de crédito se dê por meio de aquisições de outros players.
A verdade é que, no fim das contas, ao investir no Banco Inter se está confiando que o Banco fará o que não fez antes, aquisições estratégicas e diversificação de receitas e da carteira de crédito, pois se for para esperar investir num player do mercado de financiamento imobiliário, não vejo um futuro tão brilhante assim para o Banco.
Abraços,
Senhor Ministro