E cá estamos nós em mais uma safra de balanços!
Estamos em momento de divulgação dos balanços do 2T2018 e é chegada a hora de fazermos aquela breve análise das empresas dais quais somos sócios. Todos já sabemos que, como investidores de valor, buy and holders, buscamos boas empresas para sermos sócios e colher os frutos no longo prazo, porém isso não significa que vamos sentar em cima das nossas ações e esperar o tempo passar, não podemos esquecer que uma empresa muito boa pode ficar muito ruim, assim como o contrário também é possível, uma empresa muito ruim se tornar muito boa.
E para acompanharmos o desempenho das empresas das quais somos sócios temos como principal insumo os demonstrativos financeiros, popularmente conhecidos como balanços. Portanto, como investidores em ações, precisamos pelo menos a cada 3 meses dar uma olhadinha nos balanços trimestrais das “nossas” empresas para vermos como elas estão se saindo. A ideia é nos mantermos sócios de empresas boas e que permaneçam boas e deixar de ser sócios de empresas que eventualmente fiquem ruins.
E a escolhida para analisarmos hoje é a nossa queridíssima Grendene, líder de mercado no segmento de calçado, detentora de marcas fortes e consolidadas como Melissa, Ipanema, Rider, dentre outras.
No 2T2018 a Grendene apresentou um resultado que assustou muita gente: lucro líquido quase 30% inferior ao aferido no 2T2017.
Mas calma, não criemos pânico, vamos entender exatamente o que aconteceu!
O primeiro item que vamos analisar é a Receita!
A receita é um dos principais indicadores de crescimento de uma empresa, se a receita está crescendo significa, a grosso modo, que a empresa está vendendo mais produtos (o que é ótimo) ou, mesmo que não haja aumento da quantidade de produtos vendidos, a companhia está conseguindo cobrar um ticket maior por suas mercadorias (o que também é ótimo).
Como vemos no quadro acima, no caso da Grendene a receita do mercado interno ficou praticamente estável, sendo as receitas advindas das exportações o carro chefe do crescimento de 1,6% na receita bruta total, que, diga-se de passagem, não é um crescimento tão significativo. O crescimento das receitas de exportações ocorreu, principalmente, em virtude da valorização do dólar frente ao real, explico: supondo que a companhia vende seus sapatos no exterior por $ 10 dólares, antes isso equivalia a R$ 33,00 mas com a desvalorização do real hoje os mesmos $ 10 dólares valem cerca de R$ 40,00.
Uma das justificativas da companhia foi a greve dos caminhoneiros, conforme trecho seguinte extraído do release:
"Entretanto, no 2T18 vários acontecimentos afetaram os negócios de uma forma geral. A greve nos transportes interrompeu a tímida recuperação do consumo no Brasil e, embora não tenha afetado significativamente nossa produção em nossa avaliação afetou o sell-out com o varejo apresentando estoques mais elevados por falta de vendas nos dias da paralisação ou estoques em trânsito, retidos nos bloqueios das estradas. Também afetou nossas exportações, especialmente para América Latina, cujo transporte é rodoviário".
Em companhias industriais, como é o caso da Grendene, o custo dos produtos vendidos (CPV) merece especial atenção pois qualquer descontrole nos custos da produção pode impactar fortemente o resultado do período. Lembrando que custos são os dispêndios relacionados diretamente com a produção de mercadorias (exemplo: pessoal da fábrica, manutenção de máquinas, aluguel e energia dos complexos fabris, etc), já as despesas são os demais gastos não relacionados com a produção, como gastos com as lojas, salário de vendedores, bônus de diretores e executivos, marketing e propaganda, etc.
Vamos aos números da Grendene:
A melhor forma de analisar a evolução dos custos é compará-lo de forma relativa em relação a receita. Para tanto vamos utilizar o indicador margem bruta (lucro bruto/receita líquida). A margem bruta da Grendene em 2T2017 foi de 45%, já em 2T2018 caiu para 44%, portanto isso indica que houve um crescimento proporcional de 1% dos custos. Não é nada alarmante mas merece o destaque.
No Release a própria Grendene justifica esse fato da seguinte forma:
"A insegurança política pela proximidade e indefinição das eleições, a greve nos transportes, o mercado externo mais turbulento e a volatilidade cambial contribuíram para o aumento de preços em diversas matérias primas e insumos, inclusive nos nossos produtos o que afetou nossa margem bruta que caiu 1 pp no 2T18 em relação ao 2T17".
Como destaquei anteriormente, as despesas são os gastos não relacionados com a produção de mercadorias. Na Grendene, destacam-se as despesas gerais e administrativas (DG&A), despesas de publicidade e propaganda, e despesas de vendas. Vamos ver então os resultados:
Observa-se portanto que todos os tipos de despesas caíram em valores absolutos e proporcionais. Tamanho empenho da empresa em enxugar despesas provavelmente se dá em virtude da consciência da estagnação econômica que ainda paira sobre o setor. Isso é bom ou ruim? Depende! Diminuir gastos com marketing nem sempre pode ser bom para uma empresa, por exemplo.
O resultado operacional é o lucro efetivamente gerado pelo negócio, ou seja, deduzindo-se os custos de produção e as despesas operacionais. Esse é um excelente indicador para aferir o desempenho da companhia no que se refere às suas operações, que no caso da Grendene trata-se de produção e venda de calçados. Vamos então aos números:
Observa-se portanto que houve um incremento de quase 9% no lucro operacional da companhia, comparando-se o 2T2018 com o 2T2017, me parece um ótimo número. Porém isso não significou necessariamente crescimento do lucro líquido e no próximo tópico vamos entender o porquê.
O resultado financeiro é segregado do resultado operacional pois não está diretamente relacionado às operações da empresa. A Grendene não é uma empresa financeira, sua operação é produzir e vender calçados, porém ela também faz investimentos financeiros, opera com derivativos e faz hedge cambial. Tudo isso é refletido no resultado financeiro.
E foi justamente o resultado financeiro o grande vilão da Grendene no 2T2018, vejamos:
Observe que houve uma queda de 66,7% no resultado financeiro, equivalente a R$ 64 milhões inferior ao mesmo trimestre de 2017. Tal fato impactou de forma significativa o lucro líquido. O principal motivo dessa forte queda no resultado financeiro foram operações com derivativos cambiais, não que a empresa tenha feita "apostas" em derivativos, ela apenas usa esses instrumentos para fazer hedge de suas receitas no exterior, entretanto a grande volatilidade do câmbio após a greve dos caminhoneiros acabou gerando essa distorção no resultado financeiro. Porém, esse prejuízo contábil com operações cambiais no mercado futuro tende a ser compensado com as receitas em dólar dos próximos dois trimestres.
Como destaquei anteriormente, o lucro líquido da Grendene caiu quase 30% no 2T2018 em relação ao 2T2017, e como vimos, embora a companhia tenha incrementado o seu resultado operacional, a grande queda do resultado financeiro levou ao decréscimo de 28,4% no lucro líquido em relação a 2T2017, conforme números abaixo:
Vimos acima os indicadores relacionados ao resultado da empresa, porém existem outros indicadores importantes, vou relatar alguns a seguir:
1. Geração de caixa estável
2. Baixo endividamento
3. Ótima Margem Líquida
4. Ótimo ROE
5. Bom Dividend Yeld
A Grendene é uma companhia muito estável, que vem crescendo sempre de forma moderada, sem grandes surpresas. Eu trataria essa grande queda do lucro no 2T2018 como algo acarretado por um evento não recorrente: como a própria companhia destaca no release, as perdas contábeis em virtude dos contratos futuros em dólar serão compensadas pelas vendas em dólar nos próximos meses. E como é algo da natureza dos eventos não recorrentes, esse "estrago" tende a não se repetir.
Portanto no que concerne às operações da Grendene ela continua muito bem, o mercado interno de calçados parece ainda estar baqueado mas a companhia vem conseguindo bons resultados.
Quando se trata de Grendene é mais ou menos isso: crescimento devagar e sempre. É uma empresa conservadora e que, talvez justamente por isso, consegue entregar bons resultados para seus acionistas por longos períodos de tempo.
E ai, o que você achou dessa análise? Faz sentido pra você?
Diz aqui embaixo nos comentários!
Abraços,
Senhor Ministro
contato: mininvestimento@gmail.com
Estamos em momento de divulgação dos balanços do 2T2018 e é chegada a hora de fazermos aquela breve análise das empresas dais quais somos sócios. Todos já sabemos que, como investidores de valor, buy and holders, buscamos boas empresas para sermos sócios e colher os frutos no longo prazo, porém isso não significa que vamos sentar em cima das nossas ações e esperar o tempo passar, não podemos esquecer que uma empresa muito boa pode ficar muito ruim, assim como o contrário também é possível, uma empresa muito ruim se tornar muito boa.
E para acompanharmos o desempenho das empresas das quais somos sócios temos como principal insumo os demonstrativos financeiros, popularmente conhecidos como balanços. Portanto, como investidores em ações, precisamos pelo menos a cada 3 meses dar uma olhadinha nos balanços trimestrais das “nossas” empresas para vermos como elas estão se saindo. A ideia é nos mantermos sócios de empresas boas e que permaneçam boas e deixar de ser sócios de empresas que eventualmente fiquem ruins.
E a escolhida para analisarmos hoje é a nossa queridíssima Grendene, líder de mercado no segmento de calçado, detentora de marcas fortes e consolidadas como Melissa, Ipanema, Rider, dentre outras.
No 2T2018 a Grendene apresentou um resultado que assustou muita gente: lucro líquido quase 30% inferior ao aferido no 2T2017.
Mas calma, não criemos pânico, vamos entender exatamente o que aconteceu!
O primeiro item que vamos analisar é a Receita!
RECEITA
A receita é um dos principais indicadores de crescimento de uma empresa, se a receita está crescendo significa, a grosso modo, que a empresa está vendendo mais produtos (o que é ótimo) ou, mesmo que não haja aumento da quantidade de produtos vendidos, a companhia está conseguindo cobrar um ticket maior por suas mercadorias (o que também é ótimo).
Como vemos no quadro acima, no caso da Grendene a receita do mercado interno ficou praticamente estável, sendo as receitas advindas das exportações o carro chefe do crescimento de 1,6% na receita bruta total, que, diga-se de passagem, não é um crescimento tão significativo. O crescimento das receitas de exportações ocorreu, principalmente, em virtude da valorização do dólar frente ao real, explico: supondo que a companhia vende seus sapatos no exterior por $ 10 dólares, antes isso equivalia a R$ 33,00 mas com a desvalorização do real hoje os mesmos $ 10 dólares valem cerca de R$ 40,00.
Uma das justificativas da companhia foi a greve dos caminhoneiros, conforme trecho seguinte extraído do release:
"Entretanto, no 2T18 vários acontecimentos afetaram os negócios de uma forma geral. A greve nos transportes interrompeu a tímida recuperação do consumo no Brasil e, embora não tenha afetado significativamente nossa produção em nossa avaliação afetou o sell-out com o varejo apresentando estoques mais elevados por falta de vendas nos dias da paralisação ou estoques em trânsito, retidos nos bloqueios das estradas. Também afetou nossas exportações, especialmente para América Latina, cujo transporte é rodoviário".
ESTRUTURA DE CUSTOS
Em companhias industriais, como é o caso da Grendene, o custo dos produtos vendidos (CPV) merece especial atenção pois qualquer descontrole nos custos da produção pode impactar fortemente o resultado do período. Lembrando que custos são os dispêndios relacionados diretamente com a produção de mercadorias (exemplo: pessoal da fábrica, manutenção de máquinas, aluguel e energia dos complexos fabris, etc), já as despesas são os demais gastos não relacionados com a produção, como gastos com as lojas, salário de vendedores, bônus de diretores e executivos, marketing e propaganda, etc.
Vamos aos números da Grendene:
A melhor forma de analisar a evolução dos custos é compará-lo de forma relativa em relação a receita. Para tanto vamos utilizar o indicador margem bruta (lucro bruto/receita líquida). A margem bruta da Grendene em 2T2017 foi de 45%, já em 2T2018 caiu para 44%, portanto isso indica que houve um crescimento proporcional de 1% dos custos. Não é nada alarmante mas merece o destaque.
No Release a própria Grendene justifica esse fato da seguinte forma:
"A insegurança política pela proximidade e indefinição das eleições, a greve nos transportes, o mercado externo mais turbulento e a volatilidade cambial contribuíram para o aumento de preços em diversas matérias primas e insumos, inclusive nos nossos produtos o que afetou nossa margem bruta que caiu 1 pp no 2T18 em relação ao 2T17".
DESPESAS OPERACIONAIS
Como destaquei anteriormente, as despesas são os gastos não relacionados com a produção de mercadorias. Na Grendene, destacam-se as despesas gerais e administrativas (DG&A), despesas de publicidade e propaganda, e despesas de vendas. Vamos ver então os resultados:
Observa-se portanto que todos os tipos de despesas caíram em valores absolutos e proporcionais. Tamanho empenho da empresa em enxugar despesas provavelmente se dá em virtude da consciência da estagnação econômica que ainda paira sobre o setor. Isso é bom ou ruim? Depende! Diminuir gastos com marketing nem sempre pode ser bom para uma empresa, por exemplo.
RESULTADO OPERACIONAL (EBIT)
O resultado operacional é o lucro efetivamente gerado pelo negócio, ou seja, deduzindo-se os custos de produção e as despesas operacionais. Esse é um excelente indicador para aferir o desempenho da companhia no que se refere às suas operações, que no caso da Grendene trata-se de produção e venda de calçados. Vamos então aos números:
Observa-se portanto que houve um incremento de quase 9% no lucro operacional da companhia, comparando-se o 2T2018 com o 2T2017, me parece um ótimo número. Porém isso não significou necessariamente crescimento do lucro líquido e no próximo tópico vamos entender o porquê.
RESULTADO FINANCEIRO
O resultado financeiro é segregado do resultado operacional pois não está diretamente relacionado às operações da empresa. A Grendene não é uma empresa financeira, sua operação é produzir e vender calçados, porém ela também faz investimentos financeiros, opera com derivativos e faz hedge cambial. Tudo isso é refletido no resultado financeiro.
E foi justamente o resultado financeiro o grande vilão da Grendene no 2T2018, vejamos:
Observe que houve uma queda de 66,7% no resultado financeiro, equivalente a R$ 64 milhões inferior ao mesmo trimestre de 2017. Tal fato impactou de forma significativa o lucro líquido. O principal motivo dessa forte queda no resultado financeiro foram operações com derivativos cambiais, não que a empresa tenha feita "apostas" em derivativos, ela apenas usa esses instrumentos para fazer hedge de suas receitas no exterior, entretanto a grande volatilidade do câmbio após a greve dos caminhoneiros acabou gerando essa distorção no resultado financeiro. Porém, esse prejuízo contábil com operações cambiais no mercado futuro tende a ser compensado com as receitas em dólar dos próximos dois trimestres.
LUCRO LÍQUIDO
Como destaquei anteriormente, o lucro líquido da Grendene caiu quase 30% no 2T2018 em relação ao 2T2017, e como vimos, embora a companhia tenha incrementado o seu resultado operacional, a grande queda do resultado financeiro levou ao decréscimo de 28,4% no lucro líquido em relação a 2T2017, conforme números abaixo:
OUTROS INDICADORES
Vimos acima os indicadores relacionados ao resultado da empresa, porém existem outros indicadores importantes, vou relatar alguns a seguir:
1. Geração de caixa estável
2. Baixo endividamento
3. Ótima Margem Líquida
4. Ótimo ROE
5. Bom Dividend Yeld
CONCLUSÃO
A Grendene é uma companhia muito estável, que vem crescendo sempre de forma moderada, sem grandes surpresas. Eu trataria essa grande queda do lucro no 2T2018 como algo acarretado por um evento não recorrente: como a própria companhia destaca no release, as perdas contábeis em virtude dos contratos futuros em dólar serão compensadas pelas vendas em dólar nos próximos meses. E como é algo da natureza dos eventos não recorrentes, esse "estrago" tende a não se repetir.
Portanto no que concerne às operações da Grendene ela continua muito bem, o mercado interno de calçados parece ainda estar baqueado mas a companhia vem conseguindo bons resultados.
Quando se trata de Grendene é mais ou menos isso: crescimento devagar e sempre. É uma empresa conservadora e que, talvez justamente por isso, consegue entregar bons resultados para seus acionistas por longos períodos de tempo.
E ai, o que você achou dessa análise? Faz sentido pra você?
Diz aqui embaixo nos comentários!
Abraços,
Senhor Ministro
contato: mininvestimento@gmail.com