Antes de decidir ser um blogueiro, eu lia esporadicamente alguns
blogs e eventualmente passei a acompanhar mais de perto um ou outro.
Percebi então que alguns blogueiros postam uma vez por mês, outros 4
vezes por mês, e outros 3 vezes por semana, e esse fato por si só é algo
a que eu nunca havia me atentado, era simplesmente um número
relacionado à vontade de o blogueiro escrever ou não.
Entretanto,
após criar meu blog e me tornar oficialmente um blogueiro, pude sentir
na pele o quão difícil é fazer postagens regulares e de qualidade, o
esforço criativo é enorme! Eu tiro o chapéu para os blogs que estão por
ai, duradouros e consolidados, não só na blogosfera de finanças, mas em
qualquer outro nicho. É justamente sobre o esforço criativo que vou
focar nessa postagem, pois, nos tempos modernos, pelo menos no Brasil,
temos a seguinte situação:
A criatividade é completamente sufocada pelas empresas e também pelas escolas.
Não
estou falando de supermercados de favela ou escolas de periferia, mas
de grandes companhias e escolas de elite. São empresas que embora
gigantes, tem uma cultura organizacional que repele a criatividade e
inovação.
COMO AS EMPRESAS ENTERRAM A INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE DOS EMPREGADOS
Semana passada aconteceu uma situação peculiar no meu trabalho, não foi diretamente comigo mas fui testemunha ocular. Uma determinada pessoa de nível Operacional, vamos chamar de nível 1, identificou uma situação que, na opinião dela, era uma falha relevante e deveria ser corrigida. Após analisar e reanalisar a situação para ter certeza do que ela havia identificado, resolveu levar o fato ao conhecimento de seu superior, Gerente nível 2.
Após um
longo debate sobre a relevância ou não daquele fato, quais medidas
poderiam ser tomadas e quem seriam os responsáveis por adotar tais
medidas, decidiu-se que sim, era uma situação que merecia tratamento,
mas que para isso deveriam consultar o Coordenador, nível 3, que estava
de férias e retornaria em 3 dias.
Ao
retornar de férias, o Coordenador nível 3 começou o processo de
"atualização" do que havia acontecido em sua ausência e dentre os
diversos assuntos em pauta, estava a tal situação e, como de se esperar,
aconteceu o mesmo debate: relevância, medidas, responsáveis, etc. A
conclusão foi uma "tendência" para se decidir adotar alguma ação em
relação a essa situação, mas, para isso, deveria ser consultado o
Diretor nível 4.
Então, o
Coordenador nível 3 e o Gerente nível 2 conseguiram uma agenda com o
Diretor nível 4, oportunidade em que fizeram novamente toda a exposição
da situação e, finalmente, a decisão definitiva do Diretor foi a
seguinte: Esse não é um assunto importante no momento e não merece a
atenção da equipe.
Veja como uma situação como essa, que de certa forma é cotidiana no mundo corporativo, pode nos dar algumas lições.
A EXCESSIVA VERTICALIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES ENGESSA A INOVAÇÃO
Na situação narrada, o Operacional nível 1 identificou uma oportunidade de melhoria que julgou relevante, e, considerando que é essa pessoa que está no dia a dia daquela operação, certamente a sua opinião deve ser levada em consideração. Veja que ele poderia simplesmente ter se restringido a fazer apenas a sua parte, esperar o fim do expediente e ir pra casa com a cabeça tranquila, mas ao invés disso essa pessoa decidiu sair da sua zona de conforto e se aprofundou em uma situação que ela julgou que poderia trazer benefícios para a organização.
Quem
chefia equipes sabe o quão difícil é encontrar pessoas que conseguem
enxergar além das suas atribuições, que querem fazer além do feijão com
arroz, que estão verdadeiramente engajadas com a missão do negócio.
Entretanto, no fim das contas, após passar por diversas instâncias
decisórias, a ideia morreu na mesa de um Diretor que, na prática, está
muito longe dos fatos que seriam tratados e não tem a melhor
sensibilidade da situação posta.
Embora
essa tenha sido uma situação pontual, certamente já aconteceu antes e
certamente ainda irá acontecer novamente e a recorrência de episódios
como esse causa o seguinte: o empregado Operacional nível 1 não terá
mais estímulos para propor melhorias nos produtos/processos uma vez que
qualquer ideia passa por uma enorme cadeia decisória e que a decisão
final é de alguém que está longe do processo e não tem a sensibilidade
para lidar com aquela situação.
Dessa
forma, não vale a pena o Operacional nível 1 (ou mesmo o Gerente nível
2) "se queimar" propondo projetos inovadores que provavelmente não serão
aprovados. Afinal, tanto o Operacional como o Gerente tem muito
trabalho a fazer, se eles ficarem com essa "besteira" de propor
inovações na empresa, não vai sobrar tempo para cumprir a suas
obrigações, o seu feijão com arroz.
A FALTA DE AUTONOMIA DESTRÓI A CRIATIVIDADE
A
falta de autonomia é diretamente relacionada à verticalização das
empresas tradicionais. O empregado operacional tem poder decisório muito
baixo, quase nulo, e olhe que não estou falando de peões de fábrica,
estou falando de empregados operacionais de alto nível. As organizações
tradicionais mantém o processo decisório alheio aos empregados
operacionais, criando estruturas hierárquicas que tornam a tomada de
decisão lenta e distante da grande massa de colaboradores. O que se tem
na prática, guardadas as devidas proporções, são grandes companhias, com
pessoal extremamente qualificado, mas que gere as pessoas como se fosse
um canteiro de obras cheio de peões ignorantes e inaptos a fazerem algo
que fuja do seu habitual.
Quem
não gostaria de se sentir responsável por uma mudança ou inovação que
agregou valor à organização e/ou trouxe benefícios de uma forma geral,
seja financeiro ou não financeiro? Todo mundo! Todos querem se sentir
úteis, se sentir importantes, se sentir parte de algo maior. Isso gera
engajamento dos funcionários com a missão da organização, estimula-os a
serem cada vez mais criativos e a expressarem suas ideias.
Entretanto,
o que as empresas fazem? Deixam que todo o processo decisório (e os
créditos por decisões bem tomadas) fique na mão de um
Diretor/Gerente/Coordenador "fodão" que mata no peito e decide tudo,
esperando que os demais empregados que estão nas trincheiras inferiores
da hierarquia se sintam representados.
Muitas
empresas dizem que promovem a comunicação em relação à tomada de
decisão e acham que isso é suficiente. Na verdade o que engaja as
pessoas não é comunicá-las sobre as decisões tomadas, mas sim
envolvê-las no processo decisório.
OU SE ASSUME A MORTE CRIATIVA OU ENCONTRA-SE UMA SAÍDA
Quem
trabalha em organizações que adotam essa cultura sabe que isso no longo
prazo vai levando a mente para um estado vegetativo, em que se acostuma
a fazer apenas aquilo que é habitual, sem nunca ousar ou pensar em
fazer de forma diferente. É apenas entregar as metas pactuadas no prazo
pactuado, é pensar apenas no quantitativo renegando o qualitativo.
Para
evitar que fiquemos com o cérebro viciado, com a mente preguiçosa, e
viremos Homer Simpsons (como diria William Bonner) vislumbro 3 soluções
para esse dilema:
1) Ser o chato insistente dentro da empresa
Para
uma pessoa criativa e inovadora e que sempre está enxergando soluções e
oportunidades de melhorias, trabalhar numa empresa engessada pode ser
um martírio. Entretanto, mesmo na mais engessada companhia há espaço
para a inovação, às vezes existem determinados departamentos ou gestores
mais aberto a isso, a questão é cultivar o networking, buscar os
melhores espaços e persistir nas tentativas.
2) Empreender
Quando
se decide empreender, o céu é o limite para a criatividade, aliás, a
criatividade é fundamental para um empreendedor pois a gama de situações
de mudança a que um negócio está sujeito é infinita, é preciso sempre
estar pensando em soluções criativas e enxergando alguns passos a
frente. Muitas vezes a necessidade que uma pessoa sente de empreender
decorre justamente da vontade de poder permitir ser criativo e tomar
decisões baseadas nisso.
3) Buscar uma válvula de escape
Para
evitar cultivar um cérebro preguiçoso, é preciso sempre colocá-lo para
trabalhar. Se no ambiente corporativo a proposição de ideias e soluções
criativas ou inovadoras não é bem aceita, pode-se buscar um outro modo,
fora do trabalho, de externar a criatividade, escrevendo um blog por
exemplo, criando um canal no youtube, escrevendo um livro, desenhando,
etc. Eu, por exemplo, acho a atividade de escrever posts aqui para o
blog um grande exercício de criatividade.
CONCLUSÃO
Mas esse problema não é só das empresas, ele nasce bem antes, nas escolas. Sobre isso, vou deixar a seguir um vídeo de uma palestra muito interessante feita pelo Murilo Gun, vale a pena assistir!
Abraços,
Ministro