Esses dias estava, como de costume, navegando pela blogosfera de finanças e me deparei com o seguinte post do Vagabundo: de calças arriadas, minhas ações.
Em suma, nesse post ele abre a carteira de ações dele, mas o mais interessante é que ele fez uma comparação, dos últimos 12 meses, entre o desempenho da carteira dele, o Ibovespa, um fundo de ações (BNP Paribas) e o ETF* GOVE11.
*Se você não sabe o que é um ETF, resumidamente é um fundo que busca espelhar determinado índice. Por exemplo, o BOVA11 é um ETF que busca espelhar o índice Bovespa, portanto ao investir no BOVA11, você estará investindo, de uma vez só, numa fração de todas as empresas que compõem o índice Bovespa.
O resultado foi em uma ponta o fundo de ações do BNP levando uma surra, e na outra ponta o GOVE11 apresentando o melhor resultado, ligeiramente acima do Ibovespa e da carteira de ações do Vagabundo.
Isso o levou a seguinte reflexão:
"o investimento em ETF teria me dado um resultado muito melhor. Sem falar na economia de tempo - não precisar acompanhar diversas ações, controlar, declarar uma por uma no IR todo ano. Esses números me surpreenderam e me fizeram pensar. Como pode um índice cheio de empresas geridas por políticos bater uma carteira de empresas escolhidas a dedo?"
Assim como ele, eu também fiquei espantado com o resultado apresentado, afinal, temos trabalho estudando empresas, analisado resultados, lendo balanços, tudo para buscar empresas sólidas e de valor, que possa entregar resultados crescentes e, consequentemente, valorizar suas ações. Isso sem mencionar a chatisse que é declarar imposto de renda, etc.
Do outro lado, quem investe em ETF praticamente não tem trabalho nenhum de análise, é simplesmente confiar que aquele índice vai performar bem ao longo do tempo, seja por uma perspectiva setorial, seja por puro achismo.
Então, no fim das contas, será que investir em ETF vale mais a pena que investir em ações individuais?
Apesar do choque inicial, com um pouco mais de reflexão percebemos que o prazo de análise utilizado pelo Vagabundo foi muito curto, apenas 12 meses, para quem investe em ações de valor, os resultados costumam ser melhor mensurados no longo prazo. Além disso, o prazo analisado, últimos 12 meses, está inserido num contexto de mercado em alta, ambiente em que os ETF se saem muito bem.
Dessa forma, visando aprofundar essa análise e ter um resposta mais clara sobre o vencedor do embate ETF x Ações Individuais, resolvi fazer um estudo mais aprofundando, num prazo de 5 anos, comparando uma situação hipotética de dois investidores que aplicaram R$ 30 mil na bolsa no início de 2013 e o resultado que ele obteve até hoje, sendo que um deles investiu em ações individuais e o outro em ETFs.
De um lado, o investidor A, que optou por investir em ações individuais. Para esse investidor, vou replicar a minha carteira pessoal (da vida real!), que é 100% baseada em valor. Portanto, em 07/01/2013 o investidor A escolheu seis empresas e aplicou cerca de R$ 5 mil em cada, conforme a carteira seguinte:
Posição em Jan/2013 |
Já o investidor B, não querendo "se arriscar" a comprar ações individuais, resolveu investir na bolsa por meio de ETFs, escolhendo os seguintes ETFs: BOVA11, PIBB11 e SMAL11. Por que eu escolhi esses ETFs? Por que são os indicados pelo Blog do Henrique Carvalho um blogueiro de finanças mainstream (na verdade nem sei se ele ainda escreve sobre finanças) que é ferrenho defensor de ETFs frente ao investimento direto em ações. Bom, a carteira do investidor B ficou da seguinte forma:
Posição em Jan/2013 |
Avançando-se pouco mais de 5 anos no tempo, mais especificamente até o dia 19/03/2018, as carteiras do investidor A e do investidor B ficaram da seguinte forma:
Posição em Mar/2018 |
Posição em Mar/2018 |
Obs¹: as informações sobre as cotações históricas foram obtidas do site tradingview.com
Obs²: as informações sobre dividendos e JSCP foram obtidas nos sites das empresas
Obs³: na tabela os JSCP não estão descontados de imposto de renda, porém o valor seria irrelevante para o resultado da comparação
Importante destacar que o investidor em ETF não recebe dividendos e JSCP em sua conta, em tese esses valores são reinvestidos automaticamente pelo próprio ETF. No caso do investidor em ações individuais ele também pode (e deve) reinvestir os dividendos, porém no meu estudo (para facilitar) considerei que ele não o fez.
Outro ponto importante é relacionado à tributação. O ganho de capital em ETF é tributado em 15%, independente do valor, já nas ações há isenção de IR para operação de venda de até R$ 20 mil por mês.
A comparação final entre os dois investidores fica então da seguinte forma:
O investidor B, que não teve muito trabalho de análise e simplesmente enfiou seu dinheiro em três ETFs, obteve uma rentabilidade líquida de 28,3% em 5 anos e 3 meses, média de 0,4% ao mês, seguramente um desempenho pior do que obteria na renda fixa, principalmente no período analisado, em que a Taxa Selic estava nas alturas.
Já o investidor A, que se empenhou um pouco mais em escolher boas empresas e acompanhar, pelo menos trimestralmente, o seu desempenho, obteve um rendimento líquido de 124,1% no mesmo prazo, média de 1,9% ao mês. Isso porque eu não considerei que o investidor A reaplicou os dividendos recebidos, senão o retorno poderia ser ainda maior.
Conclusão
Esse não é nenhum estudo acadêmico mas acho que indica que a estratégia de gestão ativa de uma carteira de ações tem muito mais potencial de retorno, no longo prazo, em se comparando com um investimento passivo, como em ETFs.
Os ETFs tem seu propósito, principalmente para os investidores iniciantes ou para aqueles que não se sentem suficientemente seguros para comprar ações por conta própria, entretanto o esforço de estudar e escolher boas empresas compensa no bolso daqueles que o fazem.
Na minha opinião, o investimento em ações baseado em valor ainda é o método de melhor custo/benefício, pensando na variável retorno/risco, porém certamente não é um método indicado para preguiçosos e medrosos (tinha que ter uma cutucada né?).
Abraços,
Senhor Ministro