Como já comentei anteriormente aqui no blog, no último mês, depois de muito enrolação e hesitação, finalmente entre no mercado de ações, comprando um punhado de papéis.
Já
fazia muito tempo que eu tinha vontade de comprar ações, em parte pelo
sentimento de me tornar um investidor "de verdade", mas também pelo
conhecimento que eu tinha do potencial que uma empresa bem administrada e
com bons números pode ter. Já trabalhei em um banco, na parte de
avaliação de empresas, e era meu cotidiano analisar dados financeiros de
grandes companhias (a maioria de capital fechado) e sempre me fascinava
o crescimento que algumas delas apresentavam (embora algumas
apresentassem balanços notadamente não confiáveis).
Pois
finalmente chegou o momento em que estou analisando companhias não por
obrigação trabalhista, mas para avaliar onde aplicar o meu capital,
agora sou oficialmente um stakeholder, mesmo que em pequena escala.
Confesso
que hesitei muito antes de comprar a minha primeira ação, é lógico que
bate aquele medo pois não faltam histórias (ou estórias) de gente que
perdeu tudo na bolsa e fica meio que uma coisa de consciente coletivo
que bolsa é arriscado, que é cassino, que é loteria, etc. De fato, a
bolsa pode ser sim uma loteria ou cassino, depende de como se lida com
ela. É aquela coisa, lucros altos e rápidos podem ser tornar prejuízos
igualmente altos e rápidos.
Mas o grande segredo para desmistificar toda essa "áurea" de cassino e perder de vez o medo de investir na bolsa é simples: entender como funciona o mercado acionário.
"Ah, mas o mercado de ações é complicado demais, é uma loucura, impossível entender". Nem tanto! Pode ser muitos mais simples do que se imagina. Vejamos...
Mas o grande segredo para desmistificar toda essa "áurea" de cassino e perder de vez o medo de investir na bolsa é simples: entender como funciona o mercado acionário.
"Ah, mas o mercado de ações é complicado demais, é uma loucura, impossível entender". Nem tanto! Pode ser muitos mais simples do que se imagina. Vejamos...
Quem quer obter
lucros astronômicos no curto prazo e, supostamente, viver de bolsa, deve
buscar fazer trades, que nada mais é que operar com foco no preço de um
papel, independente do valor da companhia. São compras e vendas de uma
ação em um curto período de tempo, inclusive no mesmo dia. O investidor
trader deve se aprofundar em análise técnica, ou seja, aprender a
decifrar aqueles gráficos de ações, com suas candles, médias, suporte,
resistência, etc.
Entretanto, para aqueles,
como eu, que pensam na bolsa de valores como uma forma de investimento
para o futuro, ou seja, uma aplicação de longo prazo, o foco deve ser o
buy and hold, que nada mais é do que comprar ações de empresas com valor
e com perspectivas de crescimento, para mantê-las por muito tempo, até
um dia vendê-las com um bom lucro ou mesmo viver do recebimento de
dividendos. Na minha opinião, esse é o método mais indicado para quem
busca investir no longo prazo, para os iniciantes na bolsa de valores e
para aqueles que começam investindo com pouco dinheiro.
Mais um dia de trabalho de um trader que "vive de bolsa" #sqn |
Mas então quais ações comprar?
No método buy and hold, o foco, como
relatado, é o valor da empresa, portanto devemos analisar os números da
companhia de forma mais detalhada ao invés de simplesmente olhar o
histórico da cotação da ação. A ideia é que o preço da ação acompanhará o
crescimento da companhia. Portanto se comprarmos ações de empresas
sólidas, consolidadas, bem administradas e com resultados crescentes, a
tendência que é esses papéis se valorizem a medida que a empresa vá
crescendo.
Logicamente que os resultados
passados não garantem os resultados futuros, portanto por melhor que
seja uma companhia, uma vez adquirida suas ações não se deve simplesmente
esquecê-las na conta da corretora. É preciso estabelecer uma
periodicidade de reavaliação do investimento e determinar critérios de
permanência ou saída daquele papel. Os balanços das empresas são
trimestrais, mas não obrigatoriamente é preciso fazer o acompanhamento a
cada 3 meses, pode-se fazer um acompanhamento semestral ou mesmo anual.
Se uma empresa em que se investiu der sinal de deterioração, então é hora
de vendê-la. E não se preocupe, não será preciso estudar contabilidade
para entender um balanço, numa futura postagem vou falar de alguns critérios simples para analisar um balanço e
onde conseguir as informações necessárias para realizar essa análise.
Aqui
vale uma ressalva: o preço de uma ação depende muito dos resultados da
companhia, mas outros fatores alheios à empresa podem influenciar a
variação da cotação, seja o vazamento de uma delação premiada que
envolve o Presidente da República (que pode deixar o mercado em crise
por alguns meses), seja um crise na economia chinesa (que pode deixar o
mercado em crise por alguns anos).
Devemos
analisar uma companhia friamente, com foco nos números e outros dados
relevantes, sem nos apegar emocionalmente a ela. Para mostrar como isso é
importante, vou utilizar o exemplo de duas companhias distintas, uma bem conhecida e a outra nem tanto.
Obs: foquei a análise nos balanços anuais entre 2012 e 2016.
NATURA (NATU3)
Muita
gente, principalmente as mulheres, adora a Natura. Em todo lugar tem
alguém que vende Natura (com as famosas revistas), sempre há publicidades da marca em programas de
televisão de grande audiência e os produtos são amplamente utilizados
por mulheres (e homens) de todas as classes sociais. Em tese é uma empresa muito
boa para se investir, mas vamos aos números:
> De 2012 a 2016 a Natura aumentou sua receita em 24% (o que é bom, a empresa está expandindo, aumentando as vendas)
>
Não obstante o crescimento de receita, o lucro líquido caiu 66% no
mesmo período (o que é péssimo pois demonstra dificuldades no controle
dos custos e despesas).
>Também é uma companhia muito endividada, com dívida bruta superior a 4x o valor do patrimônio líquido
Vejamos a variação do preço da ação nesse período:
Quem aplicou R$ 100.000,00 em ações NATU3 em dez/2012, quando a ação
era negociada a R$ 57,25, quatro anos depois, em dez/2016, resgatou R$
38.585,00, pois nesse período a ação caiu para R$ 22,09. Portanto após 4
anos de investimento, dos R$ 100 mil aplicados, mais de R$ 60 mil virou
pó!
Supondo que o investidor segurou um pouco
mais a ação até maio/2017, pico da bolsa antes do Joesley Day, as ações
da Natura se recuperaram e atingiram a cotação de R$ 35,24. Nesse
cenário o investidor teria tido um prejuízo um pouco menor, de forma que
os R$ 100 mil valeriam R$ 61.554,00, prejuízo de mais ou menos R$ 40
mil em 4 anos.
No mesmo período, investindo os R$ 100 mil na poupança, teria retornado em maio de 2017 o valor de R$ 136.647,00. Bem melhor hein?
Agora
vamos analisar uma outra empresa, que talvez não seja tão conhecida em
grande parte do Brasil, uma vez que sua atuação é muito concentrada no
Nordeste, mas é uma gigante do setor:
M. DIAS BRANCO (MDIA3)
A
M. Dias Branco é dominante na região Nordeste do país. Os biscoitos e
massas dessa companhia estão em praticamente todos os supermercados
nordestinos e vendem como água, com crise ou sem crise. Mas como eu
relatei antes, temos que analisar uma empresa observando os seus
números, então vamos a eles:
> De 2012 a 2016 a M. Dias Branco aumentou sua receita em 50% (ótimo)
> No mesmo período o lucro líquido cresceu 66% (excelente)
> A companhia tem baixo endividamento: a dívida bruta corresponde a cerca de 15% do Patrimônio Líquido e o caixa gerado é suficiente para quitar todas as dívidas, se assim a companhia desejar.
Agora vejamos a variação da cotação nesse período
Fazendo
a mesma comparação, quem investiu R$ 100.000,00 em ações MDIA3 em
dez/2012 quando eram negociadas a R$ 25,67, resgatou, 4 anos mais tarde,
em dez/2016, a quantia de R$ 149.357,22 pois as ações subiram para R$
38,34.
Agora vamos considerar que o investidor
segurou as ações até maio/2017, pico da bolsa. Nesse mês as ações da M.
Dias Branco chegaram a ser negociadas por R$ 58,30 de forma que os
mesmos R$ 100 mil de dez/2012 passaram a valer incríveis R$ 227.113,00 em
maio/2017.
COMPARAÇÃO: Qual o Melhor Investimento?
Portanto,
fazendo uma comparação grosseira, ressalvando sempre que olhar dados
passados é muito fácil e não significa que vão espelhar os dados
futuros, teríamos o seguinte: o cidadão que aplicou R$ 100.000,00 no
final de 2012, teria o seguinte montante em maio de 2017 (antes do
Joesley Day):
Se Aplicado em Poupança: R$ 136.647,00 - Valorização de 36,65%
Se Aplicado em ações NATU3 (Cotação R$ 35,45): R$ 61.554,00 - Desvalorização de 38,45%
Se Aplicado em ações MDIA3 (Cotação R$ 58,30): R$ 227.113,00 - Valorização de 127,11%
MORAL DA HISTÓRIA
Essa comparação ilustra bem o fato de que investindo-se em ações de empresas sólidas, que tenham produtos consolidados no mercado, que sejam bem administradas, que deem o retorno financeiro esperado e que apresentem números crescentes e sustentáveis, as chances de algo dar errado são pequenas, pensando no longo prazo.CONSIDERAÇÕES SOBRE PREÇO DA AÇÃO E MARGEM DE SEGURANÇA
Após
essa análise a tendência natural de qualquer um que esteja lendo isso é
pensar: vou fugir de NATU3 e mergulhar de cabeça em MDIA3. Mas pensa
comigo: e se o preço da MDIA3 estiver muito esticado sem margem para
maiores valorizações, mesmo com o crescimento da companhia? E se a NATU3
estiver com preço descontado frente ao potencial de crescimento da
companhia?
Em relação a isso, existem duas correntes predominantes
1)
Aqueles que acham que o preço não importa, pois comprando uma empresa
de valor a cotação vai crescer a medida que a empresa cresce
2)
Aqueles que acham que o preço importa, pois uma empresa, por melhores
perspectivas futuras que tenha, pode estar com o preço da ação
supervalorizado, sem margem para crescimento futuro.
Esse
foi um ponto que me travou por muito tempo. Passei muito tempo com medo
de comprar ações no topo, ou seja, muito caras. Pra evitar isso fiz
algumas pesquisas sobre valuation (método de precificação de ações). A
verdade é que valuation é uma ciência complicada e muito subjetiva, tem
diferentes métodos, alguns bem complicados, e que podem dar resultados
distintos. Ainda preciso me aprofundar muito mais nisso, mas às vezes me
questiono sobre o custo/benefício de aprender técnicas avançadas de
valuation.
Um meio termo interessante entre
comprar uma ação "às cegas" (em relação ao preço) e fazer uma complexa
análise de valuation, é utilizar o método de margem de segurança, que
vou abordar num post futuro.
CONCLUSÃO
Por
mais que tenhamos a sensação ou impressão de que o mercado acionário é completamente aleatório, se assemelhando a um cassino, há uma lógica que dita a flutuação do preço das ações no longo prazo.
O grande segredo para investir na bolsa com uma margem de risco controlada é investir em empresas sólidas e que deem resultado no longo prazo, para tanto, deve-se analisar não a variação do preço da ação, mas os fundamentos da companhia.
No curto prazo o mercado pode ser irracional, mas no longo prazo a tendência é que o preços das ações acompanhem a performance da companhia.
O grande segredo para investir na bolsa com uma margem de risco controlada é investir em empresas sólidas e que deem resultado no longo prazo, para tanto, deve-se analisar não a variação do preço da ação, mas os fundamentos da companhia.
No curto prazo o mercado pode ser irracional, mas no longo prazo a tendência é que o preços das ações acompanhem a performance da companhia.
Abraços,
Ministro