Com o advento da pandemia e os lockdowns implementados no mundo todo, a economia tradicional foi duramente impactada. Com os comércios impedidos de abrir as portas e as pessoas presas em casa, muitos pequenos empreendedores não aguentaram a pressão e fecharam as portas.
Os que conseguiram sobreviver ou até crescer no meio desse caos foram aqueles que conseguiram se adaptar mais rapidamente à única forma de negócio que um lockdown não pode parar: um negócio online. Milhares de empresário foram subitamente obrigados a expandir sua presença online ou mesmo criar do zero novos canais de vendas na internet.
Já relatei antes que desde 2019 venho tocando, em paralelo ao meu emprego, um negócio online e o que vou relatar aqui é baseado em experiências da vida real. Isso porque se vende muito a ideia que é fácil faturar 6 dígitos no online com liberdade de tempo e geográfica, mas a realidade não é bem assim. Para ilustrar vou usar um exemplo fictício mas baseado em situações reais.
Imagina só o dono de uma escola de inglês. Antes ele atendia na sua escola os alunos, em sua maioria do bairro. Além disso as turmas tinham limitação de vagas pelo tamanho do espaço físico. Agora no online ele pode ter alunos do Brasil (e do mundo) inteiro e pode admitir quantos alunos quiser por turma, não há limites!
Além disso os custos são muito menores, não precisa pagar aluguel, a quantidade de funcionários é muito menor, não precisa pagar energia, água, etc. A margem de lucro é bem mais alta.
O mundo perfeito né?
A VIDA REAL NÃO É BEM ASSIM
É meus amigos, mas as coisas não são tão coloridas assim. A parte mais difícil de se ter um negócio online é a falta de barreira de entrada (inclusive isso é algo que eu prezo muito ao analisar uma ação para investir). Isso porque TODO MUNDO está na internet.
Pensa aí, a escola de inglês do bairro, ao migrar pra internet, perdeu uma grande vantagem competitiva que era o espaço físico, agora ela está concorrendo no mesmo espaço que milhares de outras escolas, do mundo todo. O aluno que antes ia feliz pra sua aula presencial pagando R$ 100 por mês, começa a se questionar se compensa continuar naquela escola, com aula online, se ele pode pagar R$ 60 numa XYZ English com professores nativos. Ou então porque não fazer aquele curso do professor famoso que bomba nas redes?
O processo de construção de vantagem competitiva no online é totalmente diferente do presencial. No presencial você constrói uma fachada chamativa, investe numa boa estrutura física e em horários de funcionamento que atendam bem seu público, treina vendedores para serem receptivos, faz uma divulgação em alguns estabelecimentos da região, etc.
Um negócio online é diferente, as principais vantagens competitivas são conexão e confiança. As pessoas vão comprar de você se elas, de alguma forma, se conectarem com você ou sua marca e confiarem que você e sua empresa entregarão o que promete.
E construir confiança e conexão não é tão trivial assim, exige presença, exige constância, é um processo de médio/longo prazo, é preciso muita paciência e resiliência. A escola de inglês, por exemplo, tem que estar diariamente postando conteúdo educacional e engraçadinho em suas redes sociais, os professores precisam gravar vídeos fazendo gracinhas, a escola precisa estar com anúncios rodando constantemente e sempre inovando nos anúncios pois existem milhares de outras escolas fazendo anúncios parecidos.
Além disso é um ambiente que muda extremamente rápido, exige um nível absurdo de adaptabilidade. No negócio físico o cidadão constrói sua escola de inglês e de ano em ano faz uma reforminha, a coisa é mais perene. No online é mudança toda hora: a plataforma de anúncios mudou, o anúncio que performava não está virando mais, a rede social não está mais entregando conteúdo, foi criada uma nova rede, foi criado um novo formato de conteúdo, tem que gravar vídeo no Youtube, live no Instagram, aparecer nos stories, etc.
Quem empreende no online não tem sossego. Sabe aquele pessoal mexendo num notebook na praia e dizendo que ter um negócio online dá liberdade? Ilusão, muitos empreendedores online são verdadeiros escravos do negócio, assim como muitos empreendedores de negócios físicos também o são.
ENTÃO NÃO VALE A PENA?
Claro que com o tempo, se o negócio conseguir atingir um certo nível de escala, dá pra ir delegando mais coisas, construindo equipes especializadas, abrindo mão de margem em prol da "automatização", mas aí vai virando uma empresa tradicional, com amarras e estrutura de custos parecidas com um negócio físico.
Meu objetivo não é desanimar quem pretende ter um negócio online, mas mostrar que por trás da liberdade de "trabalhar onde quiser" que mostram por aí, existe muito suor, muita dedicação, muito trabalho duro, assim como qualquer outro negócio.
Minha percepção atual é (baseado na minha vivência): ter um negócio online pra tirar uma renda extra é algo possível para muitos, mesmo rodando com uma estrutura amadora, às custas, porém, de bastante dedicação. O principal custo é mental com a dificuldade conciliação com outro trabalho.
Porém ter um negócio de verdade no online, para viver dele, exige outro nível de dedicação, investimento e profissionalismo, que, acredito eu, só alcançará aqueles que realmente estiverem dispostos a abraçar o risco de empreender e ter um plano claro de ter o negócio como trabalho principal e abandonar o emprego tradicional.
Se você já teve ou pensa em ter um negócio online, deixa aí nos comentários qual é sua percepção sobre o mundo do empreendedorismo online e compartilhe suas experiências.
Abraços,
Senhor Ministro